4.22.2008

Ultrasom
(Patrick McGuinness)

I

Turbilhões calados de escuro.
Então um flash, zodíaco esbranquiçado.

Ele parece a manhã:
carne, um corpo se recolhendo;

seus ossos um filamento de prata.
seu corpo uma lâmpada numa sala norturna.

II

O Camponês atola em acres negros, pastos
lavrados e semeados; a terra partida
onde o bebê estrela se agita e cresce.

Uma primeira página ancorando na tinta.

*

Ultrasound
(patrick McGuinness)

I

Noiseless swirls of dark.
Then a flash, a white zodiac.

He is like morning:
flesh, a body dawning;

his skeleton a silver filament,
his body a bulb in a roomful of night.

II

The Plough stalls on black acres, furrows
tilled and seeded; the earth broken
where the star baby turns and grows.

A first page dropping anchor in the ink.

2.06.2008

Poema
(Bill Knott)

Aqui na cidade o som
dos sinos precisa competir
comigo por espaço, mas lá fora
sobre as ondas pode se propagar
sozinho. Através do mar
os sinos viajam sem impecilho.

(Tradução de Renato Mazzini)

*

Poem
(Bill knott)

Here in town the sound
of bells must compete with
me for room, but out
over the waves can zoom
alone. Across the sea
bells travel unimpededly.

1.28.2008

As Friagens
(Michael O'Leary)

A rua completamente imóvel. Descendo o longo corredor
uma luz, diversas portas e um único pinheiro.

As conversas nos fios estão silenciosas,
sequestradas daqui para ali, de orelha a orelha.

As piadas mais íntimas às vezes se perdem,
até questões simples acabam sem resposta.

A quietude é assim. Magníficos cristais
de gelo rastejam ao longo das vidraças que rangem.

(Tradução de Renato Mazzini)

*

The Chills
(Michael O'Leary)


The street quite still. Down the long corridor
a light, several doors and a single pine.

Conversations on the wires are quiet,
sequestered from here to there, ear to ear.

The most intimate jokes get lost sometimes,
even simple questions go unanswered.

Quiet's like that. Magnificent crystals
of ice spider across the creaking panes.

1.25.2008

Foto no Periódico
(Luis Chaves)

Uma cidade em ruínas,
três ou quatro velhos convencidos
finalmente a partir.

E atrás um cão
que, quando o perigo passou,
farejando entre o metal retorcido
e as paredes transformadas em ar,
volta a buscar
sua tigela de comida,
seu tapete no pé da cama,
sua mão na cabeça.

(Tradução de Renato Mazzini)

*

Foto en el periódico
(Luis Chaves)


Una ciudad en escombros,
tres o cuatro viejos convencidos
por fin de partir.

Y atrás un perro
que, una vez pasado el peligro,
olfateando entre el metal retorcido
y las paredes convertidas en aire,
regresa a buscar
su pote de alimento,
su alfombra al pie de cama,
su mano en la cabeza.
Poema Para Pessoas Que São Compreensivelmente Atarefadas Demais Para Lerem Poesia
(Stephen Dunn)


Relaxe. Isto aqui não vai durar muito.
Ou se for, ou se os versos
te deixarem sonolento ou entediado,
ceda ao sono, ligue a T.V., embaralhe as cartas.
Este poema foi feito para comportar
tais coisas. Seus sentimentos
não podem ser feridos. Eles existem
em algum lugar no poeta,
e eu estou muito longe.
Pegue-o a qualquer hora. Comece
no meio se assim desejar.
Ele é tão absorvente como o melodrama,
e pode te oferecer violência,
se é violência de que você gosta. Olhe,
há um homem na calçada;
o jeito que sua perna manca
ele nunca mais será o mesmo.
Este é o seu poema
e eu sei que você está ocupado no escritório
ou que as crianças estão te enloquecendo.
Talvez seja sexo o que você sempre quis.
Bem, eles jazem juntos
como os casacos desabotoados,
empilhados na cama,
esperando que mãos ébrias os movam.
Não acho que você queira que eu prossiga;
todo mundo tem suas próprias expectativas
mas este é um poema para o família toda.
Agora mesmo, Budweiser
está escorrendo de uma cascata,
desodorantes estão chiando nas axilas
de pessoas que se parecem com você,
e dois amantes estão se vestindo,
dizendo adeus.
Eu não sei que música este poema
comporta, mas ele claramente
precisa de uma. Pois é aparente
que não voltarão a se ver
e precisamos de música para isso
porque nunca houve música quando ele ou ela
te deixaram imóvel na esquina.
Perceba, eu quero que este poema seja
melhor que a vida. Quero que você olhe pra ele
quando a ansiedade ziguezaguear no seu estômago
e o último tranquilizante já era
e você precisa de alguém que te diga
eu estarei aqui quando você precisar de mim
como o som dentro da concha.
É isso que o poema está dizendo a você agora.
Mas não dê nada por este poema.
Ele não espera muito. Ele nunca dirá mais
do que se pode entender ouvindo.
Apenas guarde-o na sua pochete
ou na sua casa. E se você não dormiu
até agora, ou não ficou incrivelmente entendiado,
o poema quer que você ria. Ria de
si mesmo, ria deste poema, de toda poesia.
Vamos lá:

Bom. Agora eis o que a poesia pode fazer.

Imagine-se como uma larva.
Há uma contorção terrível e, de repente,
você tem beleza pelo tempo que viver.

(Tradução de Renato Mazzini)

*

Poem For People That Are Understandably Too Busy To Read Poetry
(Stephen Dunn)


Relax. This won't last long.
Or if it does, or if the lines
make you sleepy or bored,
give in to sleep, turn on
the T.V., deal the cards.
This poem is built to withstand
such things. Its feelings
cannot be hurt. They exist
somewhere in the poet,
and I am far away.
Pick it up anytime. Start it
in the middle if you wish.
It is as approachable as melodrama,
and can offer you violence
if it is violence you like. Look,
there's a man on a sidewalk;
the way his leg is quivering
he'll never be the same again.
This is your poem
and I know you're busy at the office
or the kids are into your last nerve.
Maybe it's sex you've always wanted.
Well, they lie together
like the party's unbuttoned coats,
slumped on the bed
waiting for drunken arms to move them.
I don't think you want me to go on;
everyone has his expectations, but this
is a poem for the entire family.
Right now, Budweiser
is dripping from a waterfall,
deodorants are hissing into armpits
of people you resemble,
and the two lovers are dressing now,
saying farewell.
I don't know what music this poem
can come up with, but clearly
it's needed. For it's apparent
they will never see each other again
and we need music for this
because there was never music when he or she
left you standing on the corner.
You see, I want this poem to be nicer
than life. I want you to look at it
when anxiety zigzags your stomach
and the last tranquilizer is gone
and you need someone to tell you
I'll be here when you want me
like the sound inside a shell.
The poem is saying that to you now.
But don't give anything for this poem.
It doesn't expect much. It will never say more
than listening can explain.
Just keep it in your attache case
or in your house. And if you're not asleep
by now, or bored beyond sense,
the poem wants you to laugh. Laugh at
yourself, laugh at this poem, at all poetry.
Come on:


Good. Now here's what poetry can do.


Imagine yourself a caterpillar.
There's an awful shrug and, suddenly,
You're beautiful for as long as you live.

11.30.2007

Batimento Cardíaco
(Lisa Jacobson)

"qual é o tamanho real do coração?.o tamanho e o peso de um punhado do planeta Terra."
-Anne Michaels, Fugitive Pieces

Hoje ouvimos seu coração bater,
rápido como um pardal, um pulso firme
na estática de alguma ilha marítima vasta;
água não-mapeada, também ainda sem nome,
que contorma minhas margens interiores
onde pequenas pedras lavadas
sempre parecem a ponto
de dissolver.

(Tradução de Renato Mazzini)

*

Heartbeat
(Lisa Jacobson)

"how big is the actual heart?.the size and heaviness of a handful of earth."
-Anne Michaels, Fugitive Pieces

Today we heard your heart beat,
sparrow-quick, a thready pulse
in the static of some vast inland sea;
unmapped water, as yet unnamed,
which laps at the inner shores of me
where small, washed stones
seem always on the point
of dissolving.

10.26.2007

Grécia
(Greta Stoddart)


Tardes que temos para nos esconder do calor
onde o cachorro arrasta sua sombra em farrapos
pelas paredes. Facas estão limpas e quietas,
travesseiros frescos, chuva remota como tragédia.
No quarto pálido enquanto deitamos à beira
do sono ou sexo, zapeando a droga da TV,
Chelsea aparece e é como filmagem velha -
homens que pensamos perder para sempre, um campo,
a chuva de verão em pingos grandes e o cheiro
metálico do esperma que desprende certo licor.
Meu coração bate obscuro quando penso em Londres,
como um amante não tão esquecido;
e o velho órgão segue com a nota
como a chegada de uma tempestade, ou mito.


(tradução de ana guadalupe)

*


Greece
(Greta Stoddart)

Afternoons we have to hide from the heat
where the dog drags his ragged shadow
along the walls. Knives are clean and quiet,
pillows cool, rain remote as tragedy.
In the drawn room as we lie on the verge
of sleep or sex, zapping bad TV,
Chelsea appear and it's like old footage -
men we thought we'd lost forever, a field,
big-dropped Summer rain and the iron
smell of sperm that heaves off a certain shrub.
My heart thumps obscurely at the thought of London
as if of a not quite forgotten lover;
and the old song-swell carries from the pitch
like the approach of a massive storm, or myth.